sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma exposição que não fez jus ao artista. Alexsandr Rodchenko em SP.

A exposição com fotografias de Aleksandr Rodchenko fica aberta até 1º de maio, domingo próximo. Duas coisas posso dizer: 1) Rodchenko, por si, é de fato uma página pioneira e incontornável na fotografia, nas artes gráficas e mesmo nas artes plásticas, ou na chamada "arte moderna", no que ela tem de inventivo junto à Vanguarda Russa. Mas isso não faz a exposição ganhar por si em valor. 2) Se Aleksandr Rodchenko reconhecidamente é um dos nomes importantes e acessíveis, já que é a segunda exposição do artista em São Paulo em pouco menos de 15 anos (a outra foi no MAM de São Paulo, em 1997), a exposição poderia ser melhor trabalhada em sua montagem.

Não adianta nada empilhar fotos em paredes ou amontoar informações em expositores "do século passado". Principalmente, há um discurso que acredito poder ser contado: senão o discurso de uma geração que aplicou sua arte no empenho de uma "transformação" da sociedade, pelo menos pode-se deixar mais clara a distinção entre arte criativa e trabalho maquinal, encomendado.

Seria proveitoso perceber - pelo menos com uma disposição mais "voluntariosa" - como é o período criativo, heróico, de um projeto compartilhado por artistas construtivos, futuristas e pelos vanguardistas em geral, quando cinema, poesia e lirismo se impregnam mutuamente, e como é a cópia da cópia, na produção de volumes corporais para mostrar suspeitas organizações plásticas na coreografia militar e totalitária dos soviéticos. Algo em que Leni Rienfensthal demonstrou ser praticamente perfeita, ao mitificar outra criatura, o nazismo. Uma outra terrível e conhecida ditadura. Em lugar de pensar na "grandiosidade" do comunismo, a cada russa massuda que vi posar para a assinatura do artista, penso no engodo dessas demonstrações fascistas, à esquerda ou à direita.

Depois de 1930, ou perto disso, pouco ficou do que foi produzido pelos construtivistas, e mesmo Maiakovski, que se suicidou neste ano, já não era muito "revolucionário", passando-se muitas vezes por um propagandista de um regime autoritário e natimorto.

Entretanto, deixar que o público se contente, ou se aperte, entre fotografias encomendadas e páginas criativas é de uma maldade sem motivo para com o artista.

No mínimo, pelo que fez de bom. Aleksandr Rodchenko mereceria essa consideração: "Aqui, um artista em busca de uma transformação na arte - o que pode ser mostrado simplesmente colocando em série cronológica sua arte, e ali, provavelmente um empregado de agência, tentando divulgar o que pedem", como se pode ver, nem é necessário recorrer às palavras.

Público e artista sairiam favorecidos.

Uma instituição - a Pinacoteca - que já expôs Rodin, Miró e Valentim, todos com acerto, não pode ser descuidada assim. Sobraram fotos, faltou uma exposição.

Assim, assim, fica sugerido que se passe pela Pinacoteca, ao menos para conferir capas da LEF, revista do movimento construtivo, as impagáveis colagens de Aleksandr Rodchenko, e o seu delicado humanismo, impregnado de afetividade, no lirismo familiar de um construtivista que fotografa sua mãe, "Retrato da mãe", sua companheira, "Varvara Stepanova", ou sua filha, "O banho". De longe, minhas favoritas. Também deve-se notar o apreço que tem por seu amigo, Maiakovsi, seja em poses "de trabalho" - em que se propõe a divulgar-se, a si mesmo, como poeta, dramaturgo, performático - seja em mitificadoras poses de rebelde sem causa.

Ou ainda, encontrar ao menos uma boa imagem daquela que inspirou ao fotografado enormes poemas de amor, Lilia Brik, ainda muito bonita diante das lentes de Rodchenko, ou reproduzida espertamente em capas e cartazes. Ela consegue assim chegar ao futuro sem desmerecer a fama que adquiriu, de ser uma mulher muito atraente, pelo menos em minha opinião.

Pessoalmente, também fico com a impressão de que LEF era uma revista "normal", após ver suas capas. Uma dessas revistas que pelo menos cabem na mão. Pelo menos por serem menores que uma folha de sulfite.

Distante desse formato incômodo de revistas intelectuais nossas contemporâneas. Faz sonhar com publicações de novo.

Até mais. Wagner.

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