quarta-feira, 26 de junho de 2013

Não esqueceria aquele rosto

Ela tinha um rosto que eu não poderia lembrar
Nem com todas as coca-colas que tomo,
Nem pixando paredes, nem limpando a mente,
Quase dormindo em posição de lótus
Sobre o tapete da sala, nem distraído no banho,
Nem deitado no sofá
E ainda menos olhando a minha cara no espelho.
Eu não me lembraria dela quando reparasse
Os ângulos das pessoas e das casas
Olhando triste pelo vidro do trem
Nem quando sentisse o cheiro de pipoca,
De feijão ou de sorvete no McDonald’s
Do Centro, atrás da Galeria do Rock,
Nem quando algo em meu rosto apertasse
As glândulas para expor as lágrimas
Como água suja correndo nas calçadas
Eu não me lembraria dela nem que me dessem
Tempo ou muito dinheiro ou uma oferta de emprego
Nem que me pagassem para assistir a um filme
De arte nas tardes de domingo,
Solidário, egoísta e apaixonado
Eu não lembraria sua voz, seu rosto,
As marcas de suas costas, suas mãos
Suadas e apertadas com força sob as minhas
Nem gotas de suor que minavam em seu rosto
Nem o seu inconfundível hálito depois de amar
Não poderia, por ser impossível, lembrar-me
Do que sou, e só o sou em você,
Porque parte de mim está aqui
E outra procura por nós, em mim

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