terça-feira, 25 de junho de 2013

Meu partido - ao Rogério

"Meu partido (I)" - ao Rogério Britto

Eu faço parte de um partido em mil pedaços
Mil anseios em estilhaços
Meu partido vagabundo
Não quer mais que mudar seu mundo
Meu partido
Não quer voto, a não ser de amizade
Não quer adepto, nem bandeira
Nem cuidar da vida alheia
Recusa-se à negociação
Ao acordo e à coleira
Meu partido vai às ruas
Sabendo-se usuário, nunca o dono
Do pedaço – público – que ocupa
Desconfia de bicho e de gente
Do que voa, ama ou bate
Meu partido, só, sem aliado,
Desconfia até da lembrança
Que preserva de si mesmo
Cartesiano, latino-americano e
Semianalfabeto, só lê
Gibi e poema concreto, canção de vaqueiro
E neologismos
Se diz apatriado, recolhe dos países
A língua materna, permeia
As fronteiras
Do sonho e enriquece
De amigos e histórias
Meu partido não faz propaganda
É a avó da Carmen Miranda
Dadá puro, baile punk e forró
Em festa na floresta tropical
Meu partido não se envolve
Não promove falcatrua
Não acusa, não ataca, nem recua
Fica sempre na sua, na mesma,
Toda vez e sempre
E diferente de Pessoa, não ser eu
não é suficiente
para ser todos,
mas para desconfiar
de toda a gente

(Wagner Pires)

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